O Voadeira Estradeira nasceu um blog sobre viagens (período incrível!). Depois se tornou um breve diário pré-casório e compartilhamentos sobre a maternidade. Agora ele se transformou em meu principal projeto: criação, produção e estudo de literatura. Muito bem-vindos!

sexta-feira, 26 de fevereiro de 2016

Premiação

Muito feliz!
Ontem foi uma noite para festejar na premiação do II Concurso Prosas e Versos da APVE. Nós, da Litheratrupe, fomos premiadas com nossos textos e poemas. Eu ganhei o 1ª lugar na Prosa, minhas queridas amigas do grupo, Adriana Ribeiro e Lislaine Yeda levaram prêmios com suas poesias. Grata por esse momento tão especial. Ganhamos exemplares do livro, que ficou lindo! A nossa querida Rita Elisa Seda estava lá prestigiando nossas conquistas. Foi demais! Minha família também esteve presente. Uma noite linda!










sexta-feira, 19 de fevereiro de 2016

Novidades: fevereiro 2016

Em breve novos livros!
Em produção, criação e captação.
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Entre em contato.
Muitas ideias e histórias para colocar no papel.
karinamuller@yahoo.com.br

segunda-feira, 15 de fevereiro de 2016

Maria e o Tapeceiro

Meu conto publicado originalmente no blog da Litheratrupe, que faço parte com muito orgulho!
Maria e o Tapeceiro

Mais um ano ia se findando sem sinal de boas notícias. Tempo difícil de perda para Maria. Já fazia alguns anos. Aquele cinza no olhar que não havia quem pudesse tirar.
A casa, os móveis, as cortinas, tudo sem vida e brilho algum. Casa sem ninguém é só parede e teto, não tem serventia. Casa de verdade tem gente falando e comendo. Briga e pazes quase ao mesmo tempo. Risadas, bolo pela metade, torneira pingando, varal cheio, toalha molhada, fogão sujo. Mas, Maria estava só, mais um ano. A janela mostrava seus dias passando sem alegrias que ela não queria mais ver, nunca abria as cortinas.
Ficou ali, encerrada na tristeza. Ele tinha partido para nunca mais, pelo menos nessa vida. E quem pode prever esses acontecidos? Mas, como doía! Dor latejada sem fim. Poucas coisas mudavam seu humor, e pouquíssimas a deixava feliz, um gole de café bem quente, passado na hora – e bordados. Entrelaçar as linhas em um vai e vem de laços e entrelaces acalentava seu coração partido. Um café forte e bem quente abraçava a frieza da solidão. Mas, para que ela servia agora?
E assim passava seus dias, bordando, tecendo, criando laçadas coloridas entre goles de café quente em seu mundo em branco e preto. Mas, nessa vida quem sabe de tudo que vai acontecer? Na verdade sabemos é muito pouco sobre os acontecidos. Enfim, ela não sabia, mas aconteceu. E foi de repente.
De repente para Maria, porque para o Grande Tapeceiro foi mais um ponto em seu enorme e quase infinito bordado. Sim, Ele é um exímio artesão e tece cuidadosamente a tapeçaria da vida de cada um com divina precisão. Seus dedos de ouro, lá na cidade celestial, trabalham em todos os tapetes que permitem o seu árduo labor. Fios, tramas, nós, pontos, às vezes duvidosos, o tempo passa e com ele mais um trecho desse entrelace que muitas vezes não compreendemos – pois às vezes fica tudo tão emaranhado! Não há quem entenda aonde irá chegar.
Voltemos à Maria:
Em uma tarde nublada e cinza como todas as tardes de Maria, alguém bateu à porta. Era uma jovem com uma criança nos braços. Vizinhança que não parava de mudar. Maria nem bem guardava uma feição, já havia outra no lugar. A moça, encabulada, pedia açúcar para a mamadeira da menina que, nos últimos tempos andava abatida com uma tosse persistente. Pequena ainda, dois anos no máximo.
Leite com calda de açúcar queimado aliviava o mal estar, já que dinheiro para remédios era pouco, quase nada. E a moça, mãe devotada, explicava com detalhes que o tal leite com açúcar a fazia feliz, aliviava os ânimos. Maria se surpreendeu consigo mesma, quando olhou para a menininha e, com um sorriso furtivo, confidenciou:
_ Comigo funciona com café!
Algo naquela menina ensolarou sua alma e a fez lembrar-se de sorrir outra vez. Fazia tanto tempo! Enquanto pensava entrou às pressas para buscar o açúcar. Que a vizinha batesse sempre que necessário, recomendou. Lembrou de como era com José, sempre sorridente por minúcias, por quase nada. Gostou de ressorrir. Até lembrou que o Natal se aproximava e, na manhã seguinte, enquanto bordava, se pegou pensando em algum motivo infantil para a menininha da vizinha. Parece que tinha acordado para as alegriazinhas da vida outra vez.
_ Uma vidinha tão recém-chegada passando necessidades!, pensou.
Resolveu costurar para ela algumas mudinhas de roupas. Vestidinhos bordados, uma fita para o cabelo. Pensou em seus filhos há tempos já crescidos e caídos no mundo – trabalho no estrangeiro, família longe em outro estado... E ela ali, voltando a se preocupar com meninices e cuidados com crianças, as suas já tão crescidas e independentes.
Gostou de reviver.
Se aproximaram as vizinhas. Mãe e filha sem pai. Ela sem o marido. Marcaram a ceia natalina juntas – um assado que perfuma a casa e um arroz colorido já era o bastante para a data. Desempoeirou a árvore de Natal.
_ Criança precisa de bolinhas de Natal e imitação de neve, um pouco de brilho e ilusão, meditava.
Mas, quem se via admirando a antes tão exuberante árvore era ela mesma. Estrela dourada na ponta... O Presépio! Na outra manhã virou caixas e sacolas em busca dele. E achou! O Cristo um pouco descorado, um pastor lascado na mão do cajado. Não importava! Ainda era um presépio! Montou embaixo da árvore com festão verde metálico circulando a cena de Belém. O menino! Nascia todo ano e ela ali, encarcerada, na sombra de sua perda. Entendeu porque o menino nascia outra vez e outra e outra...
Bordava e pensava – tinha tanto a fazer agora! Os preparativos, o tempero do assado, os presentes... Para a menina um vestido branco bordado de florzinhas vermelhas miúdas. Para a moça uma faixa para o cabelo bordada com rosas mais sóbrias. Também ganhou o seu, um espelho ornamentado.
A ceia de Natal, a primeira desde a partida de José, aconteceu como deveria. Cheiro de assado, conversas até bem tarde e desembrulhar dos pequenos presentes. Música! Risadas, casa iluminada com portas abertas até bem tarde. A casa revivia também, junto com ela.
Janelas e cortinas abertas, sol batendo no tapete da sala, música, panelas fumegando e bolos no forno.
É que o Tapeceiro trabalha pelo avesso. E quem olha assim, de relance, até acha que está tudo perdido. Mas, quando se olha o direito do tapete consegue-se, enfim, compreender as voltas, entrelaces e laçadas desse maravilhoso artesão. Maria se pegou pensando Nele, o grande bordador sempre a surpreender. Sim, naquele Natal teve um vislumbre do lado direito de seu tapete. Sua vida continuava e ela precisava seguir em frente. O emaranhado de fios embaraçado começava a fazer sentido enfim. Tinha que viver ainda, e deixar o menino nascer em sua vida outra vez.