O Voadeira Estradeira nasceu um blog sobre viagens (período incrível!). Depois se tornou um breve diário pré-casório e compartilhamentos sobre a maternidade. Agora ele se transformou em meu principal projeto: criação, produção e estudo de literatura. Muito bem-vindos!

segunda-feira, 18 de janeiro de 2016

Texto 2 - Um lugar

                                                                              Um lugar      
Um lugar que chove verde. Folhas secas, corredeira a passar, uma sombra, um quintal.
No varal roupas brancas estendidas brincam com o vento.  A casinha no meio da imensidão viva, verde, molhada, musicada pelos passarinhos. Pedras, pássaros. A vida correndo livre sem hora para terminar. Nesse lugar que chove verde me vejo menina outra vez. Tanta gente querida ao redor. Gente que o tempo levou, mas não hoje.
Hoje, nesse terreiro batido de chão rodeado de paineiras robustas sou outra vez a menina colecionadora de painas em vidros de maionese. Maria trabalhadeira, dentro da casinha, às voltas com o almoço. Tem tanto serviço! Será que um dia parou para ouvir o sabiá?
Um lugar que chove fino. A chuva me alenta – a corredeira me leva para esse lugar chovido de lembranças, de tempos, de lugares. Não é nostalgia. Não era totalmente perfeito - mas nessa terra de paineiras e corredeiras me encontro com as velhas raízes.
Casa velha, parede e meia com outras, todas elas igualzinhas construídas há muito tempo. Terreiro farto, jardim a florescer. Flores azuis, trevinhos úmidos, beijinho de estudante coloridos... Inúmeras florezinhas sem valor. As roseiras, de um rosa desbotado e alegre, crescem às dúzias espinhando doído os desavisados. Também são antigas moradoras daquele jardim.

 A corredeira é canção e vozes brotam de suas águas. A paineira me conta que o tempo passa rápido – talvez ela fique mais, mas eu, menina, moça, mãe ou senhora, muito não vou durar. Aos poucos como Maria, Dito, Zé, Mariinha... Aos poucos vamos apagando com o tempo. Mas, nesse lugar chovido de tudo a corredeira seguirá a passar e, a paineira, lá do alto, robusta, vivida, envelhecida, sofrida pelo vento e pela falta de chuva, vai colecionando outras décadas e a tudo segue a observar.  

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